A substituição dos complementos verbais é uma estratégia gramatical que nos permite reorganizar ou reformular uma frase sem alterar o seu sentido. Ou melhor, isso é feito substituindo os complementos diretos ou indiretos por pronomes pessoais oblíquos. Conforme essa habilidade é importante para tornar a comunicação mais objetiva, fluida e econômica, além de evitar repetições desnecessárias e melhorando a clareza do discurso.
Primeiramente, antes de entender como funciona a substituição dos complementos verbais, é essencial relembrar os conceitos de objeto direto e objeto indireto. O objeto direto é o termo que completa o sentido do verbo sem o uso de uma preposição. Por exemplo, na frase “Maria comprou um livro”, o termo “um livro” é o objeto direto, pois é o complemento necessário para que o verbo “comprar” tenha um significado completo. Já o objeto indireto é o complemento que vem introduzido por uma preposição obrigatória. Por exemplo: “Maria gosta de música”. Nesse caso, o termo “de música” é o objeto indireto, pois o verbo “gostar” exige a preposição “de”.
A substituição dos complementos verbais ocorre principalmente através dos pronomes oblíquos. Esses pronomes desempenham a função de substituir os objetos na oração. O tipo de pronome usado vai depender de dois fatores principais: se o complemento é direto ou indireto e se o pronome deve ser empregado na forma átona (mais usada em contextos formais) ou na forma tônica (geralmente empregada após preposição).
Substituição do objeto direto
Para substituir o objeto direto, utilizamos os pronomes oblíquos átonos: me, te, o, a, nos, vos, os, as. Esses pronomes substituem diretamente o termo que funciona como objeto direto da oração. Vamos observar um exemplo:
• Frase original: “Ela viu o filme.”
• Substituindo o objeto direto: “Ela o viu.”
Nesse caso, o pronome oblíquo “o” substitui o complemento “o filme”. Essa substituição é direta e não exige preposição. Destaca-se que o pronome deve concordar em gênero e número com o termo que ele substitui.
Por exemplo:
“Ela comprou a bolsa.” → “Ela a comprou.”
“Eles encontraram os amigos.” → “Eles os encontraram.”
“Ela viu as crianças.” → “Ela as viu.”
Em alguns contextos, especialmente na linguagem falada, é comum o uso dos pronomes na forma tônica, como “ele” ou “ela”, para substituir objetos diretos. Apesar de muito usado no dia a dia, esse uso é considerado inadequado na norma-padrão.
Por exemplo:
• “Eu vi ele ontem.” (coloquial)
• Forma correta: “Eu o vi ontem.”
Substituição do objeto indireto
Já para o objeto indireto, utilizamos os pronomes oblíquos átonos: me, te, lhe, nos, vos, lhes. Esses pronomes são empregados para substituir complementos que vêm acompanhados de preposição obrigatória, como “a” ou “para”. Vamos ver um exemplo:
• Frase original: “Ela entregou o trabalho ao professor.”
• Substituindo o objeto indireto: “Ela lhe entregou o trabalho.”
Nesse caso, o pronome “lhe” substitui o complemento “ao professor”. A substituição respeita a relação do verbo com a preposição obrigatória. Outros exemplos incluem:
• “Eles deram o presente à mãe.” → “Eles lhe deram o presente.”
• “Eu expliquei a situação aos alunos.” → “Eu lhes expliquei a situação.”
É importante lembrar que “lhe” e “lhes” são usados independentemente do gênero do termo substituído, mas variam em número: “lhe” (singular) e “lhes” (plural).
Pronomes em orações com dois objetos
Quando a oração tem um verbo bitransitivo, ou seja, que exige tanto um objeto direto quanto um objeto indireto, é possível substituir ambos os complementos por pronomes. Nesse caso, usamos a combinação dos pronomes oblíquos.
Por exemplo:
• Frase original: “Ela deu um presente ao amigo.”
• Substituição dos complementos: “Ela o deu ao amigo.” (somente o objeto direto)
• Substituição completa: “Ela lho deu.” (substituindo “um presente” por “o” e “ao amigo” por “lhe”).
Observe que, na substituição de dois objetos, ocorre uma fusão entre os pronomes, e o uso de “lho”, “lha”, “lhos” ou “lhas” é necessário para atender às exigências da norma-padrão. Embora essa estrutura seja menos frequente na linguagem do dia a dia, ela ainda é amplamente utilizada em textos formais.
Cuidados e considerações importantes
É essencial observar algumas regras na substituição dos complementos verbais. Um aspecto relevante é a colocação pronominal, que pode variar entre próclise, mesóclise e ênclise, dependendo do contexto.
Por exemplo:
• “Eu o vi ontem.” (próclise)
• “Vê-lo-ei amanhã.” (mesóclise)
• “Viu-me na escola.” (ênclise)
Outro ponto é a concordância entre o pronome e o termo que ele substitui, que deve sempre ser respeitada em relação ao gênero e ao número. Além disso, na linguagem informal, é comum que as pessoas deixem de usar a norma-padrão, trocando “lhe” por “para ele/ela” ou evitando a fusão pronominal (“lhe o”). No entanto, é importante praticar o uso correto, especialmente em situações formais, como redações ou documentos acadêmicos.
Em resumo, a substituição dos complementos verbais é uma ferramenta poderosa para evitar repetições e tornar o discurso mais dinâmico. Além disso, com atenção às regras e prática, é possível utilizá-la de forma natural e eficaz.